Projeto do Ifes transforma óleo usado em sabão e oportunidades

• Imprimir

O Laboratório de Química Verde (LabQV) do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), campus Vila Velha é fruto de uma trajetória que começou muito antes da inauguração oficial de sua sede, em junho de 2022. A história desse projeto de extensão nasce em 2010, com uma visita técnica ao então Fórum do Rio Aribiri, hoje Instituto Verde Vida, liderado por Seu Joãozinho, liderança comunitária da região. No mesmo ano, foi iniciado o projeto de Iniciação Científica "De olho no óleo", voltado ao reaproveitamento do óleo residual de fritura. Em 2011, o projeto foi concluído, dando início a uma jornada que, até hoje, une ciência, responsabilidade ambiental e transformação social.

A parceria entre o Ifes e o Instituto Verde Vida consolidou-se com a criação da Fábrica de Sabão Escola, inaugurada em 2012 com apoio da Petrobras e do Movive. Desde então, diversas capacitações em coleta seletiva e produção de sabão ecológico foram realizadas, atendendo mais de 600 pessoas na região 3 de Vila Velha (Aribiri, Ataíde e entorno). O processo foi viabilizado com o suporte técnico do Ifes, incluindo o licenciamento ambiental emitido em 2014 pela SEMMA/PMVV, com responsabilidade técnica assumida pelo professor Mauro Cesar Dias, coordenador do LabQV.

Atualmente, o projeto segue ativo o ano inteiro, com oficinas e cursos de 2h voltados a estudantes de escolas públicas e privadas, moradores da região e turmas dos cursos técnicos e superiores do campus. As atividades incluem desde coleta e tratamento do óleo até a produção, corte, carimbagem e embalagem do sabão ecológico — sempre com foco na replicabilidade das técnicas e no incentivo à economia solidária. Parte fundamental do trabalho ocorre dentro do próprio Ifes, no Laboratório de Química Verde, onde os alunos realizam análises de controle de qualidade, experimentos com formulações diversas e estudos de estabilidade, além de aplicarem seus projetos em iniciações científicas (ICs), TCCs e oficinas práticas.

Além da produção de sabão com diferentes aditivos (argilas, essências, corantes naturais e extratos vegetais), o LabQV também atua com oficinas de educação ambiental e experimentos de eletroquímica aplicáveis ao ensino médio e técnico.

“O objetivo sempre foi promover ciência aplicada de forma acessível. A gente orienta, acompanha e aprende junto com a comunidade”, explica o professor Mauro Terra Santa, coordenador do projeto. “Nosso trabalho vai do licenciamento ambiental à formação cidadã dos nossos estudantes.”

Formando pessoas, não apenas profissionais

A dimensão formativa do projeto aparece com força nos relatos de ex-alunos. Renata Adão, por exemplo, desenvolveu sabões com extrato de aroeira em sua iniciação científica, analisando propriedades físico-químicas como pH, índice de limpeza e presença de glicerol. Segundo ela, "participar desse grupo de pesquisa foi de grande importância para meu desenvolvimento acadêmico e pessoal. Aprendi a importância de pensar sustentabilidade no caminho da produção química".

Igor Bruno, outro ex-integrante, destaca o trabalho coletivo dentro do laboratório: "Veteranos ajudam novatos, ideias são compartilhadas, e a busca é sempre por soluções replicáveis e de baixo custo. A construção é conjunta". Já Ícaro Vasconcelos, que ingressou no projeto em 2018, ressalta o impacto do LabQV em sua vida profissional: "Mesmo fora do projeto, sigo acompanhando sua evolução. A experiência foi essencial para minha formação e contribuiu diretamente para minha inserção no mercado de trabalho."

Extensão como ponte entre o conhecimento e a comunidade

Além das atividades no campus, o Ifes também participa de visitas e ações diretas no Instituto Verde Vida, que continua funcionando no bairro Ataíde. Lá, oficinas com duração de 2 horas são oferecidas à comunidade local, com foco na capacitação em saboaria ecológica e educação ambiental. O professor Mauro, os alunos do Ifes e Seu Joãozinho, referência local, dividem a condução das atividades que unem técnica, saber popular e acolhimento.