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Ifes disponibiliza ebooks com jogos indígenas que ampliam maneiras de estudar Matemática

Escrito por Leonardo Saimon Duarte Lacerda | Publicado: Segunda, 22 de Julho de 2024, 17h15 | Última atualização em Terça, 23 de Julho de 2024, 11h05

Pesquisadores estudaram brincadeiras dos povos originários de Aracruz e materializaram o conhecimento em dois livros disponíveis gratuitamente. 

 

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A Etnomatemática é o conceito que reconhece o estudo da matemática através de diversas culturas, como se não houvesse apenas um jeito específico de aprender a matéria. E é partindo desta perspectiva, que pesquisadores do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) em colaboração com membros da comunidade Guarani e Tupinikim reuniram jogos e brincadeiras de povos originários de Aracruz para ampliar as maneiras de estudar matemática em sala de aula. O pré-lançamento de um dos livros ocorreu, recentemente, na Aldeia Três Palmeiras, em Aracruz, onde a comunidade teve acesso a uma versão impressa, e ambos exemplares estão disponíveis gratuitamente em formato de ebook. 

Ambos livros nasceram das interações que o Grupo de Pesquisas em História da Matemática e Saberes Tradicionais (GHMat), do Ifes campus Vitória, teve junto aos povos Guarani e Tupinikim. E nessa relação de estudo e pesquisa, o grupo identificou necessidades. Necessidades estas que poderiam ser suplantadas, em alguma medida, se a Lei 11.645 fosse efetiva na prática. Essa Lei deveria garantir o ensino da cultura afro e indígena nas escolas brasileiras bem como o uso de materiais paradidáticos para auxiliar no processo de ensino e aprendizado a respeito dessas culturas.

 

“De modo geral, o próprio currículo de matemática impõe certas práticas, métodos e teorias mais eurocentradas. No livro faço essa crítica também. E abordar a matemática unicamente nessa ótica, negligencia outras formas de saber”, pontua Lucas Mulinari, um dos autores do livro Etnomatemática e Saberes Indígenas na Sala de Aula. O exemplar é resultado do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e iniciação científica, orientado pela professora e doutora Cláudia Lorenzoni, que também é autora do livro e líder do GHMat. 

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O campo de estudo que resultou neste livro mais recente foi a escola pública Escola Municipal de Ensino Fundamental Indígena (Emefi) Arandu Retxakã, na Aldeia Três Palmeiras em Aracruz e durou cerca de três anos. Lucas e Claudia registraram o jogo de tabuleiro que conheceram como “jogo dos gatinhos e ratinhos”. Os autores também conversaram com educadores indígenas que estão na sala de aula e que integram o GHMat, lideranças indígenas e estudantes da Emefi. “Sempre partindo de uma ótica do protagonismo indígena”, frisa Lucas. Os autores estudam a possiblidade de viabilizar a versão imprensa do livro, mas o projeto precisa de suporte financeiro para ser contretizado. Iniciativas como esta precisam de investimento do poder público e/ou da iniciativa privada para que ganhem ainda mais projeção e cheguem em novos espaços. 

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Indígenas como protagonistas 

 

Mas este não é o primeiro livro em resposta aos trabalhos desenvolvidos pelo GHMat e com o foco na comunidade indígena. Em 2022, um grupo de seis pesquisadores, indígenas e não indígenas, compilaram no livro Jogos, Brincadeiras e Experiências em Matemática com os Guarani e Tupinikim exatamente o que o título propôs. Um dos pesquisadores indígenas que participou da construção deste livro foi o pedagogo Tupinikim Valdemir Silva.


“Esse resgate, e ou revitalização das brincadeiras e jogos como uso da matemática é fundamental, porque as escolas precisam com urgências de materiais didáticos nas escolas indígenas”, explica Valdemir.

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Ele conta que o material vai ao encontro da educação escolar indígena que, segundo Valdemir, revitaliza saberes, resistências e memórias de lutas territoriais, e respeita e valoriza as tradições. Um conhecimento construído de maneira coletiva e sobrevivido a base de muita luta. 

 

O indígena guarani e diretor da Emefi, Mauro Carvalho, concorda com Valdemir quando reforça o papel do resgate histórico dos livros para a comunidade. Ele escreveu um dos prefácios do livro escrito por Cláudia e Lucas onde destacou a necessidade deste livro não apenas como uma demanda de material pedagógico, mas como uma material que tratou da cultura local.

 

 “No ambiente escolar guarani, precisamos avivar o lazer de nossos estudantes indígenas, além disso, precisamos mostrar a importância do jogo no ambiente escolar, que ajuda o aluno a desenvolver a atenção e muitas outras habilidades”, escreveu. 

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É por isso que os livros são tão necessários, eles materializam esse conhecimento e registram saberes. E é através das regras dos jogos, da maneira que essas brincadeiras são desenvolvidas que os pesquisadores identificam pontos de convergências com aquilo que chamamos de Matemática. Inclusive, até a diagramação dos livros é pensada tendo a comunidade indígena como foco. 

 

Claudia, no entanto, sugere que ambos livros podem ser usados em diálogo com o currículo nacional da Matemática. “Qualquer escola não indígena, um professor que se disponha a ler os materiais vai ver que neles o fio que conecta a nossa cultura à indígena é justamente o elemento matemático”, complementa. 

 

Etnomatemática para outras culturas 

 

Claudia é professora de Matemática e a tese de doutorado dela, de 2010, já foi com uma comunidade indígena. E desde 2017, ela vem desenvolvendo junto ao Ifes projetos de extensão na escola indígena de Aracruz.  “Sempre em meio às atividades de pesquisa a gente está envolvido na comunidade. Nos últimos anos, bastante envolvido na escola com os estudantes, e agora, com algumas pesquisas com os professores conforme a demanda que eles levantam”, relata.

 

E essa parceria de estudar não apenas sobre os povos indígenas, mas com os povos indígenas é um princípio que norteia este grupo de estudos. E este processo de escuta e de troca fortalece a confiança da comunidade no grupo liderado por Cláudia. "Estar no lugar de quem escuta e quer aprender é uma outra maneira inusitadda para muitos pesquisadores porque precisam adentrar aos conhecimentos culturais e saber como falar, o que falar e o que não pode ser repassado", pontua Marli Santos, que atua na secretearia de Educação em Aracruz, no segimento da educação escolar indígena e que também é tupinikim.

 

Ela também destaca que este tipo de trabalho dignifica tais povos porque se mostra uma maneira justa de contribuir com o saber daquela população. "Esses materiais poderão ser usados de diversas formas em todos e por todos os componentes curriculares, com turmas e idades variadas, podedo em algum momento fazer adaptações, no caso de textos, de forma que a linguagem seja acessível aos estudantes", corrobora Marli.

 

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O grupo, como conta Claudia, tem ampliado seu alcance ao estudo da matemática a partir dos saberes tradicionais, agora será direcionado também para comunidades quilombolas no Espírito Santo. “Agora tenho orientações com comunidades quilombolas e a gente quer seguir nesse mesmo caminho, contato com a comunidade. Pesquisar sobre, mas pesquisar com”, completa. 

 

Fotos: Lucas Mulinari e Fabricia de Jesus da Silva

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